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Werner Onken
Teologia da Libertação e Economia da Libertação
1492-1992: 500 anos de matança, ocupação e exploração da América Latina
Contribuição de Sílvio Gesell para uma conversão e reconciliação entre Norte e Sul

1. A conquista continua

“Neste ano, celebra-se pela qüinquagésima (500) vez o „descobrimento” da América por Cristóvão Colombo. Delfin Tenesca, um índio equatoriano opina a respeito: „Os Governos falam de 500 anos de encontro entre dois Mundos; as Igrejas pregam 500 anos de Evangelização; nós, os índios, celebramos 500 anos de resistência. Tudo depende do ponto de vista do observador da situação [1].

Em 1492, os europeus começaram a saquear a América do Sul, América Central, a África e a Ásia. Nações foram saqueadas e as riquezas das terras roubadas. Milhões de índios foram assassinados ou foram vítimas de doenças típicas do mundo europeu. Povos e culturas inteiras foram exterminados. Gustavo Gutierrez supõe que aproximadamente 57 milhões de índios viviam na América Latina antes da chegada dos europeus. Num período de 80 anos os índios foram reduzidos á uma população de apenas 9 milhões. Tzveten Todorov estima que o número de vítimas indígenas tenha sido ainda maior [2]. Os genocídios praticados pelos conquistadores desde o século XVI, sob o pretexto da evangelização dos povos pagãos, tem relação direta com os grandes genocídios do século XX: o holocausto dos judeus durante o nazismo e o terror Gulag por parte do comunismo.

Aquilo que os europeus roubaram em terras distantes se tornou, num determinado sentido, o capital inicial para a ascensão do capitalismo moderno e o surgimento de estruturas econômicas mundiais, que asseguram a supremacia mundial do capital monetário dos europeus ricos e dos norte-americanos. Durante 500 anos os poderosos souberam manipular estas terras com sua lógica da utilização do capital a seu favor e com os altos juros. Mesmo depois da libertação dos povos latino-americanos, que saíram do colonialismo para a independência nacional, ainda persistem dependências neocoloniais dentro dos próprios países Sob a forma de estruturas feudais, tais como as dívidas e os juros obrigatórios pagos aos países estrangeiros. Os juros pagos pelos países subdesenvolvidos do sul aos países ricos do norte são bem mais altos que o reembolso voluntário da Europa e dos Estados Unidos em forma de “ajuda para o desenvolvimento”.

Em 1492, para os povos do terceiro mundo iniciou-se uma “Via Sacra” do sofrimento que continua até hoje. Leonardo Boff chama de “Sexta-feira Santa que já perdura por 500 anos e que não tem perspectiva de ressurreição”. Há motivos para comemorar 500 anos de matança, de roubo, de opressão e expansão monetária? O ano de 1992 deveria ser um ano de inversão e de reflexão sobre como superar a conquista.

2. A Teologia da Libertação e a crítica marxista ao capitalismo

A Teologia da Libertação Latino-Americana deu um impulso essencial à esta reflexão ao romper a tradicional aliança entre Igreja e o Estado. Durante muitos séculos o Estado era responsável pelas coisas reais da vida, enquanto a Igreja tinha como tarefa o zelo da vida espiritual. O fato da Igreja não ter interferido nas coisas reais da vida nada mais significava do que ser partidária dos poderosos. Os Teólogos da Libertação superaram esta distinção entre o mundo material e espiritual e entre terra e céu. Hoje a exploração e a opressão são consideradas “estruturas pecaminosas” e a Igreja vem reconhecendo sua missão profética de lutar ao lado dos pobres contra os pecados da exploração da terra e do homem. A história profana e a história da salvação se fundiram numa única unidade [3].

Sob grandes perigos e com vítimas ¬– recorda-se o assassinato a sangue-frio do arcebispo Oscar Romero (1980) e o massacre cruel em El Salvador, onde em 1989, morreram o Padre Ignácio Ellacuria e muitos outros jesuítas - os Teólogos da Libertação latino-americanos reconheceram a forma européia da mensagem cristã como um evangelho pervertido do poder político dos ricos. Estes teólogos renovaram o cristianismo como o evangelho dos pobres. Medellin (1968) e Puebla (1979) foram pedras fundamentais neste caminho de reflexão e mudança, que teve repercussão positiva sobre a teologia européia, e que não pode mais retroceder.

Por um lado, a Teologia da Libertação latino-americana superou a deformação do cristianismo, por outro lado, importou o marxismo europeu como instrumento conceitual para a explicação teórica das estruturas dominantes, e também como manual de ação para mudanças sociais [4]. Provavelmente, isto tenha sido favorecido pelo fato do marxismo, justo naquela época, experimentar um renascimento na Europa Ocidental. Outros críticos ao capitalismo eram até então quase que totalmente desconhecidos. O grande perigo da relação entre a Teologia da Libertação e o Marxismo persiste na traição à esperança dos pobres da América Latina, bem como a traição à esperança dos pobres da Europa Oriental. O comunismo não é capaz de libertar o mundo das estruturas pecaminosas, pois a teoria de Marx contém erros que inevitavelmente conduzem à prática hostil ao homem e à natureza.

Marx não reconheceu o poder do dinheiro. Para ele o dinheiro era somente equivalente à mercadoria. Deste modo, considerou a propriedade privada dos meios de produção como a raiz da exploração e opressão. Considerou os juros produzidos pelo dinheiro como uma parte subordinada à mais-valia industrial, cuja distribuição se faria pelos capitalistas entre si. A conseqüência dessa análise errônea foi a estatização dos meios de produção, tornando as nações da Europa Oriental escravas de uma burocracia onipotente do estado e do partido. A ditadura política e o planejamento centralizado da economia destruíram a liberdade humana e não satisfizeram as necessidades básicas do homem. Isto se enquadra na concepção materialista que Marx tinha do mundo, a qual nega a dignidade do homem e está em contradição com os valores fundamentais do cristianismo.

A história dos povos da Europa Oriental tem mostrado que, através de um grande sofrimento, a abolição do mercado conduz à total falta de liberdade. Assim mesmo, devem 500 anos de conquista ser sucedidos por uma nova tirania comunista na América Latina, para que um dia o capitalismo volte novamente como o vencedor na luta dos sistemas, podendo colonizar novamente o subcontinente, como atualmente acontece na Europa Oriental? Tal destino trágico poderia ser evitado se os teólogos da libertação e os ainda pouco conhecidos críticos não marxistas do capitalismo se descobrissem reciprocamente. Desse encontro poderia resultar a perspectiva de uma economia pós capitalista de mercado liberta do poder latifundiário e do dinheiro produtor de juros, em que todos os homens tivessem os mesmos direitos de acesso à terra e ao justo intercâmbio de serviços. Essa perspectiva poderia proteger a Teologia da Libertação no sentido de que não se perdesse num novo Gulag, e ao mesmo tempo isto não significaria uma despolitização ou arranjo com as relações de poder dominante nem tampouco significaria auto-limitação sócio-política e caritativa de minimização dos efeitos negativos do mercado capitalista. O impulso libertador contido na opção pelos pobres continuaria sendo dirigido contra os poderosos da economia, da política e da Igreja. Assim, a Teoria da Libertação poderia ser aceita também por aquelas pessoas que reconhecem as estruturas pecaminosas existentes, porém distanciam-se delas porque temem as conseqüências comunistas da teoria marxista do capital.

3. Precursor de uma economia de mercado sem capitalismo

Já em meados do século XX começou a busca de uma alternativa ao capitalismo e ao comunismo. O reformador social francês Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) investigou as razões pelas quais, depois do absolutismo, não surgiu uma sociedade sem domínio. Ele responsabilizou a apropriação privada da terra e o poder do dinheiro que produz juros, pela ascensão da burguesia como nova classe dominante. Considerava o arrendamento da terra como “saque e roubo” e o juro como “agiotagem”, os quais se propagam como câncer [5]. O arrendamento da terra, os juros e os juros sobre juros fizeram com que a burguesia acumulasse grande quantidade de dinheiro e de capital real, e possibilitaram fazer do Estado e da Igreja instrumentos de seu domínio sobre os pobres.

Proudhon não via no comunismo uma alternativa desejável para as estruturas injustas da economia de mercado capitalista, pois de há muito previa seu caráter despótico [6]. Em vez disso, queria estabelecer a “igualdade de condições”, ou seja, liberar o mercado dos privilégios da posse da terra e do capital. A terra deveria ser propriedade comum e o crédito sem juros deveria prover a circulação do dinheiro sem problemas. Para Proudhon, a reciprocidade do dar e do tomar era a “fórmula de justiça” e o pressuposto para a descentralização dos meios de produção. A justa distribuição de rendas deveria colocar o homem em situação tal que pudesse ter meios de produção próprios, ou seja, associar-se livremente em cooperativas [7].

A crítica de Proudhon ao centralismo de estado hegeliano-marxista foi a causa pela qual Marx o combateu com escárnio e ódio, qualificando-o de socialista “pequeno burguês”. Este conseguiu ganhar a supremacia intelectual sobre aquele no movimento trabalhista e conduziu os rumos da história na direção de formas mistas social-democráticas: de mercado capitalista e governo geral estatal. Mas a corrente de idéias do socialismo liberal de Proudhon permaneceu viva nas obras de Gustav Landauer (1870-1919), Franz Oppenheimer (1864-1943), Silvio Gesell (1862-1930) e de Rudolf Steiner (1861-1925).

Antes mesmo da revolução russa o filósofo cultural, Gustav Landauer, havia criticado profundamente a interpretação histórica da filosofia marxista, segundo a qual o crescimento das forças da produção transformariam automaticamente o capitalismo em comunismo. Enquanto Marx considerava a concentração do capital nas sociedades por ações como uma pré-fase histórica da estatização dos meios de produção. Landauer condenava tanto as formas de concentração do capital privado como as estatais. Ele confrontava o Estado Totalitário dos marxistas com sua concepção de união voluntária de comunidades econômicas independentemente governadas e de intercâmbios justos como forma fundamental da cultura socialista. Da mesma forma que Proudhon, Landauer, foi um teórico do federalismo político [8].

O médico e sociológo Franz Oppenheimer preocupou-se muito em precisar as definições dos conceitos “economia de mercado” e “capitalismo” para fazer uma distinção mais precisa de ambos, que eram tidos como sinônimos. Para ele o responsável pelos problemas sociais não era nem o mercado, nem a concorrência e tampouco a propriedade privada dos meios de produção, mas sim a limitação da concorrência pelos monopólios opostos ao mercado livre, isto é, por estruturas de poder privadas e estatais, principalmente pelo monopólio da propriedade privada da terra. A terra não foi feita por mãos humanas e não se pode multiplicá-la por meio do trabalho humano, por isso não poderia ter o mesmo tratamento como o de outra mercadoria. Oppenheimer queria, sobretudo, suprimir o latifúndio e formar cooperativas agrícolas e artesanais [9].

O comerciante e reformador social, Sílvio Gesell, ampliou a idéia de uma ordem política para uma “economia de mercado sem capitalismo”, interpretando como causas da doença da formação do monopólio o dinheiro e a propriedade da terra. Tinha como ponto de partida a eliminação da característica inerente ao dinheiro de ser um instrumento de poder e de especulação e, por sua vez, resguardar a propriedade que tem o dinheiro de ser um meio de troca?

Para Gesell, o poder do dinheiro tinha duas causas: a) frente ao trabalho humano e os bens, o dinheiro possui a vantagem de poder ser temporariamente guardado sem perdas consideráveis ao seu proprietário, enquanto que os bens acumulados perdem valor ou tem que ser mantidos em bom estado. b) enquanto os bens e a prestação de serviços são produzidos para atender necessidades especiais, o dinheiro é fluente. Assim como um coringa num jogo de baralho, o dinheiro é um coringa universal, que pode ser utilizado a qualquer momento e em qualquer lugar da economia.

A acumulação de dinheiro e a sua alta liquidez outorga ao seu proprietário uma posição de poder: ele pode utilizá-lo seja para interromper a circulação de compras e vendas – produzindo estagnação de vendas e desemprego – ou ele pode exigir juros dos produtores e consumidores como prêmio particular para não deixar o dinheiro entesourado ao reinvesti-lo na circulação econômica, tendo auferindo daí receitas e uma divisão injusta de riqueza.

Para solucionar a questão do dinheiro, Silvio Gesell imaginou que a acumulação ou a retenção de dinheiro deveria ser vinculada a custos tais que, neutralizassem as vantagens da liquidez e da acumulação. Assim que o dinheiro for onerado por uma taxa de retenção, perde sua característica de instrumento de poder e cumpre então somente seu papel como meio de troca. Sua circulação continua, sem interferências especulativas, permitindo que a quantidade de dinheiro em circulação se ajuste continuamente ao volume dos bens produzidos, de modo que o poder de compra da moeda permaneça estável. Em sua obra principal, “Die Natürliche Wirtschaftsordnung durch Freiland und Freigeld” (“Ordem econômica natural com terra e moeda livres”), Silvio Gesell expõe detalhadamente como, com a circulação do dinheiro sem empecilhos, a oferta e a procura de capital aos poucos se equilibram, de tal modo que o nível da taxa de juros caia a quase zero. Assim, o dinheiro se converte em meio de troca de efeito redistributivo neutro. Visto que com taxa de juros média de praticamente zero a acumulação de dinheiro não pode multiplicar-se infinitamente, assim também seus detentores não podem exercer coação para o crescimento infinito dos bens de produção. Além disso, Gesell descreveu as possibilidades decorrentes da transferência da terra para uso comum e seu aproveitamento privado sob a forma de arrendamento, ou seja: cessão do direito legítimo de sucessão da terra. Pela transferência da terra, ninguém poderia ser prejudicado ou privilegiado: “a terra pertence a todos sem exceção: a negros, à pele-vermelhas, a amarelos, a brancos” [10].

Entre os precursores da “economia de mercado sem capitalismo” temos Rudolf Steiner, conhecido como o fundador da Antroposofia, da agricultura biológico-dinâmica e da pedagogia Waldorf. Ele expõe idéias semelhantes as de Gesell nos seus escritos sobre a tríplice divisão do organismo social em campos descentralizados da vida jurídica, econômica e cultural. Compara o “envelhecimento do dinheiro” em circulação na economia com a produção e a eliminação dos glóbulos sanguíneos no organismo humano [11].

Os poderosos escondiam sua ambição pelo dinheiro e pelas riquezas sob a camuflagem religiosa do evangelho dos ricos e sob o véu econômico da ideologia de mercado. Falsificaram o evangelho e o princípio da ordem econômica de mercado para impor os seus interesses de poder. Assim, o evangelho e o princípio de mercado passaram a ser elementos pouco dignos de crédito. Em conseqüência, surgiram o materialismo e a economia planificada.
Na América Latina, o cristianismo e o capitalismo, como também a economia de mercado e o capitalismo, entraram em cena como se fossem gêmeos siameses. Na sua opção pelos pobres, os teólogos da libertação dissolveram a aliança profana entre a Igreja e a riqueza, passando a concentrar-se no núcleo do evangelho. De forma parecida deve-se superar também a aliança entre economia de mercado e capitalismo. Ainda há muitas desconfianças em relação à economia de mercado, pois sua caricatura capitalista é considerada como se fosse sua própria essência. Até hoje, a humanidade nunca conheceu um verdadeiro mercado livre, mas somente a concorrência monopolista limitada. A possibilidade de superar a formação dos monopólios para chegar à concorrência íntegra está além do alcance do mercado capitalista falsificado e do falso caminho da economia planificada.

4. Compatibilidade da Teologia da Libertação e das Reformas agrária e monetária com a Economia da Libertação

As obras de Proudhon, Landauer, Oppenheimer, Gesell e Steiner são, ao mesmo tempo, obras preparatórias para se chegar à opção econômica em favor dos pobres. Nos mesmos cristalizam-se duas correntes de problemas, por meio das qual a auto-regulação descentralizada da economia de mercado foi deformada no decorrer da história: o monopólio da propriedade privada da terra e do dinheiro produtor de juros. A superação desses dois monopólios poderia estabelecer as bases para uma economia de mercado pós-capitalista, na qual a exploração, a opressão e a violência dessem lugar à liberdade, à justiça e à paz.

Essas idéias iniciais em torno do “socialismo liberal” (Franz Oppenheimer) foram ignoradas durante as décadas da ditadura nazista, do milagre econômico e da ditadura comunista. Somente a partir de meados dos anos 70 essas idéias são redescobertas. Uma avaliação crítica das mesmas e o desenvolvimento posterior, apropriado à época, ainda está para ser feito. Mas existem sinais tanto de caráter econômico como de caráter religioso que poderiam enquadrar-se melhor à Teologia da Libertação do que ao Marxismo.

Os socialistas liberais acusam a Igreja pela sua aliança com os poderosos da política e da economia, sem por isso converter-se em ateístas e materialistas. Proudhon já havia previsto a futura “revolução filosófica e religiosa”, que substituiria o evangelho dos ricos pela “religião verdadeira” [12]. Contudo, ele e os seguidores não encontraram uma síntese entre a revelação divina e a razão humana. Landauer e Oppenheimer tinham suas raízes na religião judaica. Enquanto Landauer, no decorrer de sua vida, tendeu ao misticismo. Oppenheimer procurou realizar sua concepção sobre colônias no seio do movimento sionista. Gesell e Steiner provinham de famílias católicas. Steiner tentou unir, por um lado, a tradição cristã com a sabedoria oriental e, por outro lado, com as ciências naturais modernas. No pensamento de Gesell permaceu latente a tradição judaico-cristã, sobretudo a do Antigo Testamento, mesmo que ele, à primeira vista, tenha sido influenciado por Darwin e Nietzsche. Gesell condenou o fato de se ter abusado da religião, da ciência e da arte, qualificadas como os sentimentos mais sublimes do homem, com o fim de se obter mais poder. Da reforma agrária e monetária, esperava “resultados benéficos no campo da saúde física e mental, da religião, da educação e da felicidade e da alegria de viver” [13].

Uma ligação mental entre os teólogos da libertação e os socialistas liberais quanto às propostas de reforma agrária e monetária pode ser alicerçada nas afirmações bíblicas sobre o manejo da terra e do dinheiro. Assim, por exemplo, na Bíblia o homem é convidado a servir a Deus em vez de prostrar-se diante do Bezerro de Ouro para adorar o Deus da Riqueza. O mandamento “não roubarás” é uma determinação que não só quer proteger a propriedade privada, que temos ganho com o suor do rosto, contra o furto, mas também trata de nos proteger da exploração por parte de estruturas pecaminosas institucionalizadas. A legislação de Moisés é dirigida contra os privilégios decorrentes da ocupação da terra e do uso do dinheiro. Nos Santos Mandamentos, Moisés proibiu a venda da terra e a agiotagem. (Lev, 25)

“Deus é o dono da terra”, diz o salmo 24,1 e nós somos apenas “os hóspedes desta terra”. Não só nos latifúndios, mas principalmente na propriedade privada da terra, o homem manifesta sua reivindicação de domínio sobre a terra e suas riquezas naturais, sendo invendável e conservada, servindo de base para a existência de uma corrente longa de gerações passadas e futuras. injustas Os profetas, principalmente Ezequiel, no capítulo 18, reforçam a proibição de cobrar juros; proibição que Jesus reafirma nas Bem-aventuranças. Além do Mandamento do Amor aos inimigos. Exige-nos disposição para “emprestar, mesmo quando não possamos esperar algo em troca” Lc 6, 35. Moisés também proibiu a manipulação de pesos e medidas em Deuteronômio 25, 13-16. Unidades monetárias como o Austral, o Cruzeiro ou o Peso são medidas que devem permanecer invariáveis como o litro, o metro ou o quilo. A inflação é uma fraude contra o trabalhador, independentemente de que seja 5% na Europa ou 5000% na América Latina. Os Santos Padres da Igreja renovaram repetidamente a proibição da cobrança de juros até que este antigo ensinamento e sua explosiva força social foi se perdendo desde o início da Idade Moderna tendo, finalmente, que ceder àquela teoria de economia capitalista, a qual turbava a vista contra os perigos da auto-multiplicação do dinheiro. Certamente não foi uma mera causalidade que o adeus à proibição da cobrança de juros e o desencadeamento da caça capitalista ao dinheiro e à riqueza foram paralelos à expansão do triunvirato europeu (trono, altar e capital) no além-mar. Com violência brutal, a lógica oportuna racional da elevação dos juros e da utilização do capital se estendeu sobre todo o globo. Os povos não europeus e suas culturas foram exterminados sem misericórdia [14]. Durante a marcha da colonização foi suplantada a sabedoria dos nativos, que se assemelhava àquela antiga sabedoria que os europeus já haviam eliminado antes da sua própria religião.

Nas culturas pré-colombianas. Os Maias, Astecas e Incas se consideravam parte da grande ordem entre a natureza e o cosmo. O sentimento de ser um com a sagrada Mãe Terra representava uma barreira contra o comércio e a especulação da terra. “A terra era considerada um empréstimo invendável do Grande Espírito a todos os homens;” a relação dos indígenas com a terra é muito semelhante àquela que o povo bíblico de Israel tinha com sua terra ... a terra não deve ser comprada e nem vendida: vive-se dela ... os indígenas nunca consideravam a terra apenas como um meio de produção e muito menos como um objeto vendável e de especulação. A terra também não existe para que seja dividida. Para os Guaranis, por exemplo, isto significaria cortar a terra, ferindo-a. Na linguagem dos índios Xavantes, como em muitos outros idiomas indígenas, não existe uma expressão que signifique “propriedade” no sentido em que nós a usamos, isto é, uma área em duas dimensões. No idioma Xavante existe somente uma palavra para “espaço”. Para eles a terra é tridimensional; ela é a base de todas as culturas, plenas de história, tradição e mitos. Para os indígenas a terra não é profana; nela fundamenta-se todo o sistema religioso. Terra e religião constituem juntas as pedras angulares da vida dos indígenas [15].

Os nativos já suspeitavam, obviamente, da ambivalência que podiam ter os metais preciosos e assim, por exemplo, os Astecas chamavam o “ouro e a prata: imundície amarela e branca dos deuses” [16]. Contudo, a divisão do trabalho e a economia monetária ainda não eram desenvolvidas a ponto de a força social explosiva da cobrança de juros poder penetrar em suas consciências como acontecera entre os israelitas. Entre os indígenas usava-se como dinheiro frutos de cacau, em vez de moedas.

Uma poesia indígena chamada “Mãe Terra” reflete o confronto entre a compreensão que os europeus e os indígenas têm da natureza:

“ tudo o que fere a terra,
fere também os filhos da terra,
o índio é um filho da terra,
a terra é nossa vida e nossa liberdade.
Os poderosos escravizam a terra.
São estrangeiros, chegam à noite
E roubam da terra tudo o que desejam.
Para eles um pedaço de terra é igual ao outro.
A terra não é sua irmã
É sua inimiga
A destroem e logo fogem.
Esquecem-se onde estava o berço de seus pais
E roubam a terra de seus filhos.
Sua ganância empobrece a terra
E eles deixam somente
A cansada areia do deserto” [17].

Nas culturas antigas a terra era sempre propriedade das comunidades e das parentelas. Sem dúvida nessas culturas também havia feudos de poder, motivo pelo qual não devemos glorificá-las como se fizessem parte de uma época áurea da humanidade. Os conquistadores espanhóis e portugueses se deram ao direito de posse geral de toda a terra e das propriedades; os poucos indígenas sobreviventes e os negros trazidos da África foram rebaixados à categoria de propriedade corporal e escravos. Desta forma, a economia de latifúndios tomou tal proporção que sobreviveu, até mesmo à emancipação política dos países latino-americanos de suas primeiras potências colonizadoras. O latifúndio permaneceu sendo a base das estruturas de poder neo-colonialistas.

Em muitos casos os crioulos e mestiços ocuparam o lugar dos senhores feudais estrangeiros que, como elite ocidentalizada, dominam milhões de homens despojados de seus direitos e defendem seus privilégios, valendo-se de brutal violência.

“Brot für die Welt”, instituição caritativa alemã procura chamar a atenção em anúncios de jornal, para a injusta repartição da terra em todo o mundo. Segundo um destes anúncios, no Peru e na Bolívia, países latino-americanos, existem, respectivamente, 75 e 85% de pessoas sem terra. No Paraguai, dos 40 milhões de hectares utilizáveis na agricultura, 36 milhões são ocupados por latifundiários [18]. No Brasil, existem 12 milhões de pessoas sem terra e 5,15 milhões de proprietários; destes 5,15 milhões, 0,95% são latifundiários com mais de 1.000 hectares, aos quais pertencem 45,5% das terras; 9,5% são proprietários médios que possuem entre 100 e 1.000 hectares, os quais detém 34,5% das terras; 10,5% proprietários de terras controlam, portanto, 80% do território agrícola. Os 20% das terras agrícolas restantes devem ser repartidos entre 89,5% dos pequenos proprietários com menos de 100 hectares que, em compensação, produzem 85% dos principais produtos alimentícios para toda a população brasileira. Boa parte dos latifúndios ou não são aproveitados para a agricultura ou são utilizados para a plantação de produtos destinados à exportação e para a monocultura destruidora do meio ambiente [19]. A propriedade da terra dos 400 latifundiários mais ricos no Brasil se estende por uma superfície só 15% menor que a área total da Grã-Bretanha. Muitos latifundiários possuem terras tão extensas como Luxemburgo (2.600km); [20] e com seus pistoleiros mandam assassinar a sangue-frio àqueles que, como Chico Mendes, combatem esta injustiça que clama para o céu.

Na Guatemala, 2,6% das empresas agrícolas estão nas mãos de latifundiários. A eles pertencem, aproximadamente, 65% da terra cultivável [21]. Tal injusta divisão da terra leva, sem dúvida, a conflitos sociais que, necessariamente, desabrocham em violência e derramamento de sangue. Em El Salvador, pequeno país há anos dilacerado pela guerra civil, 0,02% da população possui 39,5% da terra; outros 1,9% possuem 57,5% da terra; 63 famílias de latifundiários têm à sua disposição tanta terra como 200.000 famílias de agricultores [22].

Nos outros países latino-americanos a distribuição de terra apresenta-se em semelhante situação. Segundo Eduardo Galeano, em média 1,5% dos latifundiários latino-americanos detém a metade da terra cultivável [23]. A conseqüência imediata da concentração das terras em poucas mãos é a expulsão e o êxodo rural dos camponeses para os aglomerados urbanos. Pela afluência de milhões de pessoas pobres e desarraigadas, as grandes cidades, com suas favelas, crescem desmesuradamente. Com a especulação, os terrenos das cidades encarecem e mais uma vez os ricos tiram proveito da situação.

O latifúndio representa a grande lança cravada na carne da América Latina e a própria raiz da polarização extrema entre pobreza e riqueza. Não são as torturas e os homicídios, com os quais os poderosos defendem os seus privilégios, que primeiramente ferem os direitos humanos, mas são a desproporção na ocupação de terras e as instituições políticas por esta legitimadas, que são agressões estruturais à dignidade do homem, transtornando a estrutura social, causando doenças nas pessoas e preparando o terreno para a criminalidade e refúgio na droga.

Junto aos latifúndios, a dívida externa tem se convertido na segunda forma de dependência neo-colonialista, que procura eliminar a independência dos povos latino-americanos e continuar a conquista. Os juros correntes entre norte e sul são a continuação da exploração colonial anterior.

Em 1986, na Conferência Latino-americana contra a dívida externa em Havana, o líder sindical brasileiro Luis Ignácio da Silva (Lula) batizou esta injustiça com um nome próprio: ele falou em “ a guerra da dívida externa”, que o norte combate contra o sul; falou de uma “terceira guerra mundial” regularizada, a qual não é combatida com bombas, e sim com juros [24].

Além disso, os governos latino-americanos descarregam os custos das conseqüências dessa conquista neocolonial em cima de seus povos oprimidos, na medida em que se financiam com a ajuda de emissão de cédulas. Com taxas de inflação de 5.000% ou mais se liberta o Cavaleiro Negro do Apocalipse sobre este continente desolado. As hiper-inflações são grandes roubos que favorecem aos proprietários de bens de valor (latifúndios, imóveis urbanos) e desvalorizam as economias, sobretudo da classe média, arruínam exatamente aqueles grupos, como os lavradores independentes, os artesãos, industriais e os profissionais liberais, os comerciantes, ou as cooperativas que, por si só teriam capacidade de formar, por meio de economias próprias, um capital interno e um desenvolvimento autônomo, independente do capital externo.

As fórmulas político-econômicas do neo-colonialismo, monetarismo e keynesianismo, testadas contra a crise latino-americana, fracassaram todas porque não tocam em nada do privilégio dos latifundiários e dos grandes capitais. Até mesmo a revolução sandinista da Nicarágua só trouxe desilusões. Não se visualiza saídas para o sofrimento da América Latina. Não caberia examinar, nesta situação, as obras de Proudhon, Landauer, Oppenheimer, Gesell e Steiner para ver se elas apresentam alguma tentativa de solução, que possa ser desenvolvida no sentido de uma estratégia global, que sirva para solucionar as diferenças entre o norte e o sul?

As propostas para as reformas agrária e monetária atingem exatamente a raiz crucial dos problemas na América Latina. A devolução da terra aos seus habitantes e seu arrendamento posterior, assim como a introdução de uma moeda neutra, livre de juros, poderiam romper as estruturas de poder da conquista neo-colonial e poderiam ser passos no caminho da realização de direitos humanos elementares: 1) o direito de todos os hóspedes deste planeta ao acesso livre e igualitário à terra. 2) o direito de todos os homens de trocar os produtos do seu trabalho no seio da comunidade humana de acordo e na proporção do seu rendimento.

5. Relação peculiar de Silvio Gesell com a América Latina

Dos precursores da alternativa liberal diante do capitalismo e o comunismo mencionados anteriormente, Silvio Gesell tinha uma relação especial com a América Latina. Logo depois de aprender a profissão de comerciante em Berlim e depois de trabalhar um ano como correspondente comercial em Málaga (Espanha), emigrou para a Argentina em 1887, com a idade de 25 anos. Em Buenos Aires abriu o seu próprio negócio. As turbulentas crises econômicas o levaram a investigar as causas da inflação e deflação, da estagnação das vendas e do desemprego. Com isso, Gesell descobriu as causas do poder monetário e encontrou também um caminho para enfraquecer o seu poder. Em 1891/92, ou seja, 400 anos depois do início da conquista, surgiram em Buenos Aires suas primeiras publicações em língua alemã. A estas seguiram, com partes também em espanhol, uma grande quantidade de publicações posteriores, as quais atualmente estão sendo lançadas em uma edição completa de 18 volumes [25].

Poder-se-ia, então, dizer que Buenos Aires se converteu na cidade natal de uma economia da libertação. Naturalmente, Gesell não estava em condições de apresentar, ainda, um amplo programa contrastante com os fundamentos ideológicos econômicos da conquista da América pelos ibéricos. Em suas obras há idéias que ainda se embasam no tradicional euro-centrismo, mas que facilitam pensamentos que vão além da Europa Moderna.

Numa de suas primeiras obras, “Reforma do sistema monetário como ponte para o Estado Social” de 1891, Gesell supera a dança européia em redor do Bezerro de Ouro e a lógica dos juros maximizados e a acumulação do capital, que são a base dessa idolatria. A invenção do metal precioso como forma de pagamento significava para Gesell a mesma coisa que o Pecado Original, pelo qual o homem “converteu a grandiosa criação em inferno ... o ouro governa o mundo, na terra que já não é um paraíso”; o metal precioso como forma de pagamento é “... o pecado original, do qual a humanidade sofre; nós queremos lavar completamente esse pecado original”. Como alternativa aos metais preciosos que possuem valor de moeda corrente, Gesell propôs não só um papel moeda normal, como o que se tem em toda parte, mas as chamadas cédulas bancárias oxidáveis, ou seja, um papel moeda em que cada uma das notas, como tudo na natureza, chegam e passam e no qual a quantidade de notas sejam de tal forma administradas que as diversas unidades monetárias (Peso, Austral, Cruzeiro, Quetzal, etc.) se tornam estáveis. [26]

Enquanto a visão de futuro de Silvio Gesell rompeu as barreiras do pensamento europeu, sua idéia geral das origens do capitalismo moderno continuaram sendo euro-cêntricas. Em suas pesquisas sobre o influxo de aspectos desconhecidos da economia monetária na ascensão e decadência das culturas, ele alertava para o papel que a moeda exercia na passagem da Idade Média à Idade Moderna. Gesell atribuía à falsificação da moeda e à recondução dos metais preciosos da América, o fim da “hibernação econômica” em que a Europa se encontrava desde a queda de Roma, assim como o renascer da divisão de trabalho e a cultura renascentista. Mas apesar de recusar em geral os metais preciosos como moeda, compartilhou, no início, do preconceito de que a “América de Pizarro não transmitiu nenhum costume, uso, instituição ou processo de produção, dignos de serem imitados”. [27]

Em compensação, Gesell não foi tão longe como Adam Smith, que qualificou os indígenas como “povos selvagens em estado natural”, ou como Karl Marx que interpretou a conquista da América como a “aurora da era de produção capitalista” a qual, segundo a sua opinião, promovia “processos de transformação históricos do modo de produção feudal para o capitalismo e abreviava sua passagem” [28]. Certamente é necessário corrigir essas afirmações euro-cêntricas na obra de Gesell, para isso existem pesquisas latino-americanas, como por exemplo, a obra de Eduardo Galeano, que nos ajudam [29].

Quando se intensificaram os conflitos políticos entre a Argentina e o Chile, por causa da crise econômica, Silvio Gesell escreveu dois folhetos em espanhol, nos quais apresentou propostas para a estabilização da conjuntura da época. Com isso pretendia atuar, indiretamente, no sentido de uma relação pacífica entre as duas nações. Suas recomendações para a reforma da emissão de moedas e do controle sobre a quantidade de dinheiro foram aproveitadas por um comerciante e político chamado Ernesto Tornquis e entraram na história econômica da Argentina com o nome de Reforma Tornquiana [30].

No final do século passado, Silvio Gesell conheceu as obras “Fortschritt und Armut” (progresso e pobreza”) e “Freihandel end Schutzzoll” (“comércio livre e protecionismo”) do reformador agrário norte-americano Henry George (1839-1897), que tiveram sobre ele grande influência. No final de 1899, depois que voltou para a Europa e se estabeleceu na Suíça, unificou as suas propostas de reforma monetária com os conceitos de reforma agrária de Henry George. Sobre este tema escreveu um extenso livro “Die Verwirklichung des Rechts auf den Vollen Arbeitsertrag durch die Geld- und Bodenreform” (“a realização do direito à utilidade total do trabalho por meio da reforma monetária e agrária”), no qual Gesell acusava veementemente o abuso da terra como objeto comercial comprável e como objeto de especulação: “todo o globo terrestre, que com um vôo suntuoso gira em torno do sol, é um órgão do homem, de cada um dos homens. Devemos, então, permitir que alguns homens se apropriem de partes dessa terra, de parte de nós mesmos, como se fossem propriedade exclusiva e excludente, que construam cercas e com cães e escravos adestrados nos excluam de algumas partes da terra?” [31] Gesell considerava a apropriação privada da terra como uma agressão cruel ao organismo geral da terra e homem. Se baseia na violência e só consegue permanecer de pé por meio de uma política dirigida pelos interesses dos latifundiários, que instrumentalizam escolas, igrejas, justiça e forças militares para servir a seus interesses de domínio e necessitam de órgãos de segurança como “proteção” contra aqueles que foram privados de seus direitos. E, finalmente, Gesell reconhecia a propriedade privada da terra e no dinheiro produtor de juros os “micróbios sociais e grandes destruidores da paz”, os quais “dividem a família humana em pobres e ricos e impelem os povos para guerras civis nacionais” [32].

No contexto de sua crítica ao direito à terra, Silvio Gesell indignou-se com o roubo de terras cometido pelos europeus na África, Ásia, Austrália e América: “na América do Sul enviaram o General Roca, que posteriormente foi presidente, com um bando de soldados contra os indígenas para os expulsarem dos campos e dos pampas. Mataram a maior parte deles, seqüestraram as mulheres e crianças para a capital para servirem de mão-de-obra barata e o resto mandaram para o outro lado do rio Negro. Assim, e não de outro modo, surgiram "os santos direitos intocáveis” dos atuais proprietários das maiores e mais férteis terras que existem neste mundo. O lugar de pastagens de milhões de ovelhas, cavalos e vacas, que é a área para um povo grande e novo que já está surgindo, se encontra hoje em dia na mão de um pequeno número de pessoas [33]. Para superar esta injustiça da privatização da terra Gesell exigia a devolução de toda a terra para ser transformada em propriedade invendável, bem comum que pertenceria a todos os homens sem exceção. As terras destinados ao uso privado só deveriam ser dadas em arrendamento ou direito de herança, mas por tempo limitado. Os rendimentos públicos arrecadados com arrendamento e com a outorga da herança por tempo limitado deveriam ser dados às mães, de acordo com o número de filhos, como ajuda de sustento para a educação dos filhos.

De 1906 a 1911, Silvio Gesell voltou a viver em Buenos Aires. Durante esse tempo suas idéias, já escritas em 1898, sobre os entendimentos entre Chile e Argentina, amadureciam para uma idéia segundo a qual todas as nações da terra deveriam reunir-se num “organismo internacional”. Mesmo que sejam superados os problemas do monopólio da terra e do dinheiro em cada um dos países, poderiam continuar existindo desigualdades econômicas no exterior. Para superar também tal tipo de desigualdades e estabilizar o curso de divisas, todas as nações, num “ato de irmandade internacional”, deveriam organizar uma autoridade monetária mundial [34]. Posteriormente, Gesell desenvolveu o conceito de uma “associação internacional da moeda” (IVA). Enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial representam os interesses dos poderosos dentro da economia mundial capitalista, a IVA, visando ao mercado mundial pós-capitalista, deveria, paralelamente às moedas nacionais, imprimir uma moeda mundial e administrá-la de tal forma que fosse possível estabelecer um equilíbrio mundial. Ao contrário do dólar, que serve de moeda guia internacional, as cédulas do IVA deveriam ser uma moeda neutra, que estivesse acima de qualquer moeda nacional.

Gesell, como cidadão cosmopolita, distanciou-se severamente do “pensamento perigoso da ampliação do campo econômico nacional, em si fechado, através de conquistas e invasões” [35]. Em vez disso, imaginava um mercado mundial aberto, o qual deveria ser livre tanto dos monopólios capitalistas como das alfândegas e dos protecionismos comerciais: “a fronteira alfandegária dissolve violentamente o que, naturalmente, deveria unir os povos”. Em contrapartida, uma reforma agrária e monetária, junto com a eliminação do IVA deveria criar o pressuposto para o comércio mundial completamente livre, no qual todos os povos da terra pudessem participar igualmente: “ o mercado mundial livre é o único que oferece a todos os povos a garantia de que eles podem viver a sua maneira sem serem molestados e podem desenvolver-se plenamente dentro de uma competição pacifica. Idioma, religião, tradições históricas, em resumo, tudo o que “parece” sagrado a um povo, encontra a proteção da humanidade contra qualquer tipo de violação estrangeira somente no comércio livre”. Gesell via nesse tipo de comércio livre mundial o caminho para o respeito aos direitos humanos, para o nascimento da “aliança da humanidade” e para a paz mundial [36].

Pouco tempo antes de Silvio Gesell ter visitado, pela última vez, a Argentina (1924-1925), havia surgido ali um “Partido Liberal Georgista”, partido que lutava através da revista “El Liberal Georgista”, para que se cumprisse o programa de reforma agrária proposto por Henry George. Numa revista alemã informou positivamente sobre esse partido, mas com a indicação restritiva de que a reforma agrária isoladamente não é suficiente para solucionar também o problema dos juros e nem tampouco das dívidas. Ao mesmo tempo lembrou um presidente argentino Sarmiento, que em 1830 havia tentado proibir, constitucionalmente, a venda de terras públicas para dar a terra aos camponeses, mesmo que só em arrendamento. “Por isso, Sarmiento foi derrotado. Novamente uma prova de que as pessoas decentes não têm o que procurar nos governos. Seu lugar é na oposição e, logo, na revolução. A política partidária só atrai os gatunos” [37].

Depois da morte de Gesell alguns imigrantes alemães fundaram, em Buenos Aires, uma “Federação Fisiocrática Argentina” para propagar as idéias das reformas agrária e monetária. No México surgiu uma organização semelhante: “Economia Livre”. O filho de Gesell, Ernesto, publicou em Buenos Aires, entre 1936-1945 uma tradução espanhola do livro “Natürlichen Wirtschaftsordnung” (El ordem econômico natural), mas esta obra caiu no esquecimento depois da Segunda Guerra Mundial. Assim, o nome Gesell só se conservou no balneário “Villa Gesell”, fundado pelo seu outro filho, Carlos. Apenas o economista argentino Oreste Popescu lembrou mais uma vez, em 1963, a obra de Gesell [38]. Em contrapartida, também seus seguidores alemães e suíços perderam de vista, durante um longo período, os países do terceiro mundo. Somente Herbert Müller recordou a injusta relação de posse da terra no terceiro mundo e criticou os interesses capitalistas subjacentes à “Ajuda para o desenvolvimento”. Somente a crise originada pela dívida gerou novamente um maior interesse pelo destino dos homens que sofrem no sul [39].

6. Depois de 500 anos de desenvolvimento e subdesenvolvimento: união do norte e do sul em equilíbrio mundial

Ao longo de sua vida, Gesell se transformou de europeu em peregrino entre dois mundos: o norte industrializado e o sul subdesenvolvido. Seu ponto de partida para uma “economia de mercado livre e justa, sem capitalismo, nasceu na América Latina. Em certo sentido, Gesell foi a personificação do vínculo entre o norte e o sul, da mesma forma que a reforma agrária e monetária poderiam chegar a ser um meio para a união destes dois pólos. Se os vestígios euro-centristas fossem corrigidos em seu modelo de reforma e se as possibilidades de crítica à civilização capitalista e aos 500 anos de conquista, contidas nesse modelo, fossem ampliadas, então Gesell e sua obra não apareceriam realmente como uma semente de união de todos os cinco continentes numa sociedade mundial pós-capitalista?

Proudhon já havia falado da usura cancerosa dos juros. As riquezas crescentes são como um tumor que se formou no hemisfério norte. E este tumor espalhou metástases em formas de estruturas coloniais e neo-colonias sobre o hemisfério sul. Um meio de cura efetiva do organismo geral homem-terra poderia ser a devolução da terra à coletividade numa distribuição do rendimento do solo a pessoas que criam filhos, assim como a redução a zero das taxas de juros. Este poderia ser um caminho para a “domesticação do mercado e do capital tanto no norte industrializado como no sul subdesenvolvido” [40], isto é um caminho para o enfraquecimento do poder “dos reis e comerciantes da terra” (Apoc 18,9-11) nos bancos e empresas multinacionais, no FMI e no Banco Mundial, nos governos e no Pentágono: um caminho que a Teologia da Libertação e a Economia Libertadora, com as forças unidas da fé e da razão podem trilhar para que “tudo seja renovado”.

Não se pode apagar 500 anos de conquista. Nem a Europa, nem tampouco os dois terços do mundo podem ter reconstituídas as suas formas anteriores a 1492. Seria absurda também a idéia de que o sul empreendesse uma caça de recuperação em direção ao norte. Seria bem mais necessária a tentativa de: 1) evitar um maior alargamento do abismo existente entre o norte e sul; 2) conduzir o desenvolvimento do norte e o subdesenvolvimento do sul para um equilíbrio novo e estável das culturas e economias dos povos. A reforma agrária e monetária seria, de certo modo, uma terapia de ajustamento, ajudando o organismo homem-terra a se auto-curar lentamente das milhares de estruturas pecaminosas.

Disto resulta para a vida cultural, a idéia de uma „coalizão de culturas“ (Claude Levi-Strauss, [41]) e para a vida econômica uma nova compreensão do desenvolvimento. Encontro de culturas não significa mais a auto-supervalorização euro-cêntrica do cristianismo enriquecido e deformado, nem uma opressão dos outros tipos de religião, mas sim a compreensão de que todas as religiões da terra, enfim, são formas complementares de expressão da veneração da única divindade. Desenvolvimento não significa mais acumulação de rendimentos redáveis (rendimentos do arrendamento, da terra, juros, rendimentos dos monopólios, lucros de especulações) e o seu investimento em grandes e lucrativas tecnologias destruidoras do meio-ambiente, mas significa sim uma divisão mais ampla e mais justa da renda de acordo com rendimento e investimento descentralizado de economias conseguidas por conta própria, em tecnologias adaptadas ao homem e à natureza. Esta noção de desenvolvimento inclui o desenvolvimento próprio das economias particulares dos povos e sua associação voluntária num mercado livre mundial: Deixa para traz, portanto, os conceitos de desenvolvimento das teorias de modernização e dependência.

Tradução: Glaucia Grenzer, Margit Greve e Rudi Braatz

Notas:

1. Ökumenisches Regionalforum Oldenburg (ed.): Ninive-Information zum Konziliaren Prozess n. 3/1991.
2. Gutierréz, Gustavo: Wenn wir Indianer wären, in: E. Schillerbecks (ed.): Mystik und Politik. Theologie im Ringen du Gesellschaft. Maguncia, 1988, p.32. Todorov, Tzvetan: Die Eroberung Amerikas. Das Problem der Anderen. Frankfurt, 1985.p. 160ss.
3. Sobre a Teologia da Libertação conf. Greinacher, Norbert: Die Kirche der Armen – Zur Theologie der Befreiung. Munique, 1980/85 e do mesmo autor: Der Schrei nach Gerechtigkeit – Elemente einer prophetischen politischen Theologie. Munique, 1986.
4. Sobre isso comparar com Rottländer, Peter: 8ed.9 Theologie der Befreiung und Marxismus: Münster, 1987 ( este livro contén artigos de Clodovis Boff, Giulio Girardi, Fernando Castilllo, Ignacio Ellacuria, Gustavo Gutierréz e outros).
5. Proudhon, Pierre Joseph: Was ist Eigentum? (1840), Berlim (1986) e Graz (1071), p.126.
6. Proudhon: ide. p.208ss. e 227.
7. Proudhon: idem p. 71-198 assim como, do mesmo autor: Bekentnisse eines Revolutionärs (1849). Reinbeck. Hamburgo 1969. p. 89-113.
8. Landauer, Gustav: Aufruf zum Sozialismus (1911). 2 Ed. Frankfurt, 1967, p. 78ss. 92 -109.
9. Oppenheimer, Franz: Die soziale Frage du der Sozialismus. (1912-1925), do mesmo autor: Der Ausweg (1918). Weder Kapitalismus noch Kommunismus. Jena, 1932. Weder so noch so – Der dritte Weg. Potsdam, 1933.
10. Gesell, Silvio: Die Natürliche Wirtschaftsordnung durch Freiland und Freigeld. 1916, em: Gesammelte Werke. Tomo 11 , Lütjenburg, 1991. Conf. Internationale Vereinigung für Natürliche Wirtschaftsordnung INWO (Aut.): Gerechtes Geld – Gerechte Welt. Auswege aus Wachstumszwang und Schuldenkatastrophe. 100 Jahre Gedanken zu einer natürlichen Wirtschaftsordnung, Lütjenburg, 1992.
11. Steiner, Rudolf: Kernpunkte der Sozialen Fragen (1917). Dornach,1961, do mesmo autor: Zur Dreigliederung des sozialen Organismus. Stuttgart, 1972. Sobre a relação entre Gesell e Steiner conf.: Werner Onken: Silvio Gesells Persönlichkeit und Werk, em: Fragen der Freiheit n. 202 (1990) p.4-36.
12. Proudhon, Pierre Joseph: Manifest des Peuples, em: Ausgewählte Werke, Tomo II, Aalen, 1973, p.165. Bekenntnisse eines Revolutionärs, p. 94-102 e também: Philosophie der Staatsökonomie, Tomo I, Aalen, 1966, p.383-384.
13. Gesell, Silvio: Die Natürliche… p. 67-84.
14. Strosetzki, Christoph: Der Griff nach der Neuen Welt – Der Untergang der Indianischen Kulturen im Spiegel zeitgenössischer Texte, Frankfurt, 1991. Horst Goldstein: Die andauernde conquista – lateinamerikanische Perspektiven, em: Klaus Hagedorn: Anpassung oder Widerstand? Oskar Romero und dem gekreuzigten Volk von El Salvador zum Gedenken, Oldenburg, 1991, p.35.
15. Souza Barros: Marcelo de e Cararias, J.L. Teologia da Terra. Petrópolis, 1988, p.78-80.
16. Helfritz, Hans: Amerika-Inka, Maya und Azteken. Viena 1971, p.93 e Nigel Davies: Die Azteken. Renbeck, Hamburgo, 1989, p.406.
17. Miseror – Arbeitshefte: Guatemala im Brennpunkt. Aquisgrán,1992 p. 47. Sobre a compreensão dos indígenas norte-americanos, conf.: “A carta do índio”, principalmente “Nós somos uma parte da terra”.
18. Periódico de informações do Terceiro Mundo, n.172 (1991) p.12.
19. Ganora, Dieter: Zucker, Brot, Peitsche – Die Landfrage in Brasilien, Mettingen, 1988, p16.
20. Geurge, Susan: Sie sterben an unserem Geld. Reinbeck, Hamburgo, 1988, p. 198 e Goedeler, Carl em: Tagesspiegel 23.03.1989.
21. Miseror – Arbeitshefte: Guatemala... p.60.
22. Periódico do Terceiro Mundo, n.150 (1988) p.47. Hagedorn, Klaus: El Salvador – etwas mehr als ein Steckbrief, em: Anpassung oder Widerstand? P.35.
23. Galeano, Eduardo: Die offenen Adern Lateinamerikas. Wuppertal,1991, p.145, (original em espanhol: Las venas abiertas de América Latina). Conf: também o artigo “Bodenreform” em Handwörterbuch der Sozialwissenschaften, Tomo II, Gotinga, 1959, p.336-355, principalmente p.350, Feder, Ernst. Agrarstrukturen und Unterentwicklung in Lateinamerika. Frankfurt, 1973.
24. Silva, Luis I. Lula: Citado na revista „Contraste revista da auto-administração, n.48 (1988).
25. Gesell, Silvio: Gesammelte Werke. 18 Tomos. Fachverlag für Sozialökonomie. Alemanha. Entre 1988-1992 aparecem 13 Tomos. Os Tomos 14-18 serão editados entre 1993-1995.
26. Gesell, Silvio: Die Reformation im Münzwesen als Brücke zum sozialen Staat. Gesammelte Werke, tomo 1, p.32-37 p. 51ss.
27. Gesell, Silvio: Die argentinische Geldwirtschaft und ihre Lehren. Gesammelte… tomo 2, p.286. Zur monetären Geschichtsinterpretation conf. Die Rolle des Geldes in den Geschicken Völker, em Gesammelte… tomo 8, p.62 assim como sua obra mais importante no tomo 11, p.212-233.
28. Smith, Adam: Der Wohlstand der Nationen, Munique, 1974, p.468. K. Marx: Das Kapital, tomo 1 em Marx-Engels-Werke tomo23, Berlin Oeste,1969, p.770. Numa outra passagem Marx justificou a missão histórica da Inglaterra na Índia: “uma destrutiva e uma renovadora – a destruição da ordem antiga da sociedade asiática e a formação dos fundamentos materiais de um ordem ocidental da sociedade da asiaática. (Marx-Engels-Werke, tomo 9, p. 221).
29. Galeano, Eduardo: Na obra já citada, principalmente o capítulo “Febre do ouro, febre da prata” é uma confirmação da hipótese de Gesell que o dinheiro te um determinado influxo no curso da história. Conf.: Rottländer, Peter. Die Eroberung Amerikas und wir in Europa. Aquisgrán, 1992.
30. Gesell, Silvio: El sistema monetário argetino. Buenos Aires, 1983. La razón económoca del desacuerdo chileo-argentino, Buenos Aires, 1988, publicado tb. sob o título “la cuestion monetária argentina”), Conf. Gesell: Die argentinische Geldwirtschaft...p. 283.
31. Gesell, Silvio: Die Verwirklichung des Rechts auf den vollen Arbeitsertrag durch die Geld und Bodenreform. Em: Gesammelte…. Tomo 4, p.81 e tomo11, p.101.
32. Gesell, Silvio: Die natürliche….. tomo 11, p. 25
33. idem, p.103-104.
34. Gesell, Silvio: La plétora monetária de 1909 y la anemia monetária de 1898, Buenos Aires, 1909, em Gesammelte... tomo 5, p. 235-245.
35. Gesell, Silvio: Das Reichswährungsamt. Gesammelte…. tomo 12, Rehbrücke, Potsdam, 1920, p. 9.
36. Gesell, Silvio: Internationale Valuta Assoziation. Gesammelte… tomo 12, Sontra, 1920, p.6, assim como propostas alemãs para a nova aliança entre os povos e para a revisão do Tratado de Versailles, em Gesammelte.... tomo 13 Wuppertal, 1921 p. 4-7. O economista nacional inglês John Mainard Keynes tomou elementos do conceito IVA de Gesell para seu plano Bancor, que infelizmente não conseguiu se impor contra os interesse capitalistas dos Estados Unidos na Conferência Monetária Mundial de 1944, conf. Gottschalk, Hugo: Keynes-Plan 1944 und Silvio Gesell IVA-Plan-Grundlagen einer Europäischen Währungsordnung. Fragen der Freiheit, n.206, 1990, p.35 ss. O brasileiro Santiago Fernandes que participou da Conferência de Breton Woods vem apresentando muitas publicações em português nas quais aparecem claramente as diferenças entre o IVA e o Bancor e entre o FMI e o Banco Mundial: Ouro - a relíquia bárbara. Rio de Janeiro, São Paulo, Lisboa, 1967. A ilegitimidade da dívida externa do Brasil e o Terceiro Mundo, Rio de Janeiro: Editorial Nórdica, 1985, A libertação econômica do mundo pelo esquecido Plano Keynes, Rio de Janeiro, Ed. Nórdica, 1991.
37. Gesell, Silvio: Die Freilandpraxis in Argentinien, em: Die Freiwirtschaft, 7. ano, n.8, 1926, p.152, em 1993 sairá o tomo 15 do mesmo autor: Die Henry-George-Partei in Argentinien – Partido Liberal Georgista, em: Der neue Kurs, n. 13,,1923, assim como: Die argentinischen Bodenreformer und wir, em: Der neue Kurs n. 38, 1923. Ambos serão editados em 1993 no tomo 14.
38. Gesell, Silvio: El ordem economica natural por libremoeda e libretierra, B Aires, 1936-1945. Federación Fisiocrática Argentina (ed.). Libretierra y libremoeda, B. Aires, 1934. Noussa, Louis: Revolución monetária. San Juan (Argentina), 1935. Popescu, Orestes: Ensayos de doctrinas economicas argentinas. Belgrado, Echeverría, Gesell. La Plata: Ediciones economicas, 1953. Em Porto Alegre (Brasi) apareceu em 1948 uma revista “O futuro orgão de difusão da economia natural”.
39. Müller, Herbert: Die ökonomischen, sozialen und politischen Hintergründe der westlichen Hilfe für die unterentwickelten Länder, Hamburgo, 1961 (nr. especial de „Informationen für Kultur, Wirtschaft und Politik“, n. 8, 1961, do mesmo autor: Das ungelöste Bodenproblem als Störungsfaktor in der Sozial- und Wirtschaftsordnung. Fragen der Freiheit, n. 80, 1969, p. 9-32. Lindner, Ekkehard: Afrika ist krank. Es lebe Afrika! Zeitschrift für Sozialökonomie 66 , 1985, p.8-22. Führer, Hans-Joachim: Wie lässt sich die Befreiungstheologie der marxistischen Klammerung entreißen? Internationale Vereinigung für Natürliche Wirtschaftsordnung INWO, ed. 125. Geburtstag von Silvio Gesell – Vorträge der Tagung in St. Vith, 1988, Konstanz, 1988 (pode ser pedido na INWO: www.inwo.de) Helmut Creutz: Die Dritte Welt wird immer ärmer! Zeitschrift für Sozialökonomie 86, 1990, p. 3-20. Friedländer, Thomas: Die Verschuldung der Dritten Welt – unsere gemeinsame Bedrohung und Herausforderung, Zeitschrift Sozialökonomie 92, 1992, p.16-21. Em espanhol existem os dois seguintes trabalhos editados pela Associação Internacional para uma Ordem Economica Natural: „La economia del futuro memorandum pra cientificoa em economia, Mexico, 1988. Knauer, Peter: Quien paga la venta a del comodin? Cuaderno de reflexión teológica, n.13, Universidad Iberoamericana, México, D, F, 1989.
40. Ehrke, Michael: Jenseits der Strategien – Lateinamerika als Verlierer der Weltwirtschaft. Lateinamerika-Jahrbuch, 13, Hamburgo, 1989, p.41.
41. Levi-Strauss, Claude: Strukturelle Anthropologie II, citado por Ramminger, Michael: Option für die Armen – Option für die Anderen, em: Christliche Initiative Romero, Werkmappe 1492-1992, 500 Jahre Eroberung. Evangelisation und Widerstand Lateinamerikas, Münster,1991.